sexta-feira, 10 de março de 2017

A Transposição levou 147 anos para deixar de ser ideia e se tornar realidade


Há quase 150 anos mais um período de seca arrasadora trouxe à tona um plano ousado que ia além da tecnologia existente na época. Foi na década de 70 do século XIX que pela primeira vez o Brasil falou a palavra transposição. O debate para que as águas do 'Velho Chico' passasse a abastecer as regiões atingidas pela estiagem, segundo o historiador José Octávio de Arruda Melo, em entrevista ao Correio Online, foi iniciado no período do Império com Dom Pedro II.

As ideias, conforme o historiador, eram ambiciosas e envolviam uma articulação da ferrovia (os transportes ferroviários estavam chegando no país) com a transposição das águas do Rio São Francisco. O assunto, contudo, foi sendo esquecido porque não havia tecnologia suficiente para tal proeza. Dos anos 1909 e 1910 a possibilidade de levar as águas do São Francisco para estados que sofriam com a seca voltou a ser cogitada.

Foi no governo de Nilo Peçanha, que assumiu o governo com a morte do presidente Afonso Pena. A criação da Inspetoria de Obras Contra a Seca (embrião do atual Departamento Nacional de Obras Contra as Secas – Dnocs) fez nascer esse desejo novamente, agora com Miguel Arrojado Ribeiro Lisboa, presidente do órgão.

No final da década de 10 no século XX (anos de 1919-1922), um paraibano assume a presidência do Brasil. Relatos no livro de José Américo, “A Paraíba e seus problemas”, mostram que houve um debate sobre essa transposição. A maior parte fala do 'Rompe Norte" que, segundo José Octávio, focaliza a questão da transposição e seria um projeto grandioso, uma articulação do São Francisco com o Tocantins.

E mais uma vez a ideia foi interrompida e o tema só voltou a ser abordado no governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961). De acordo com José Otávio de Arruda Melo, sempre que havia seca se reacendia as discussões sobre o combate a esse problema e a transposição era tida como a salvação para isso.

Vem o governo de João Figueiredo (1979-1985) a intenção de ser presidente do Brasil fez Mário Andreazza, ministro de obras públicas, falar sobre o assunto para poder conquistar votos da região castigada pela estiagem, só que mais uma vez a obra sequer chegou a ir para o papel.

Para o historiador José Octávio de Melo, foi somente no governo de Fernando Henrique Cardoso (1994-2002), que finalmente a tão falada transposição começou a ser colocada no papel. Em 17 de julho de 1998, o então presidente da República visitou a cidade de Monteiro e, na época, fez um discurso à população dizendo que seria feito um estudo sobre a possibilidade da transposição. Vieram os governos petistas de Luís Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff (2003-2016).

Lula, em sua gestão, acelerou para que fosse iniciada a execução das obras do Projeto de Integração do Rio São Francisco. Na gestão de Dilma, as obras continuaram a ser executadas e estavam previstas para terminar em 2014, mas não foi concluída. E agora, somente 147 anos depois da primeira ideia, a transposição chega à Paraíba, no governo de Michel Temer. Ele concluiu o Eixo Leste, que deságua em Monteiro, para seguir a outros 70 municípios pelos leitos de rios.

Fonte: Portal Correio com Aline Martins e Nice Almeida, do Correio Online

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